sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Pampulha perdeu quase 50% da água em 50 anos

Notícia divulgada no Portal UAI, em 22 de maio de 2008.


Um dos cartões-postais mais conhecidos de Belo Horizonte, a Lagoa da Pampulha, na região de mesmo nome, perdeu 1/3 de sua área ao longo dos 50 anos desde sua reinauguração, em 1958, depois do rompimento da represa em 54. Naquela data, o espelho d’água ocupava um espaço de 300 hectares e, atualmente, tem 196,8 hectares. O volume de água também diminuiu: eram 18 milhões de metros cúbicos na década de 1950 e, agora, 10 milhões.

“A alteração é muito significativa. E, mesmo assim, até hoje, as pessoas fazem pesquisas e estudos considerando o antigo formato do reservatório da Pampulha”, alerta o biólogo Rafael Resck, autor da dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O trabalho, intitulado Avaliação morfológica e estudo da variação horizontal e parâmetros limnológicos do reservatório da Pampulha, mostra que a consolidação do parque ecológico na foz dos córregos Ressaca e Sarandi e o assoreamento das enseadas dos córregos Braúnas e Água Funda (área próxima ao zoológico) alteraram de modo definitivo as características originais do reservatório.

De acordo com o biólogo, em 1999, o volume de água chegou a 8,5 milhões de metros cúbicos, um dos mais baixos. Mas, apesar disso e da redução da área ao longo dos anos e do comparativo com o volume de água de 1958, houve uma pequena melhora. “É interessante analisar essa capacidade de resposta da lagoa, que, apesar de ter sofrido com a redução de área e ter pedido volume, conseguiu se recuperar um pouco”, observa.

Segundo Resck, o último levantamento das características do reservatório foi feito em 1999 pelo Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/UFMG), a pedido da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), órgão da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, da Prefeitura de BH.

“Me interessei pelo assunto porque ninguém conhecia o atual formato físico da lagoa – o contorno, a área, o volume de água. Nem a prefeitura tinha dados atuais, e a lagoa passou por grandes obras de dragagem de terra na década de 2000”, explica. Depois de analisar 22.183 pontos do espelho d’água em 2007, fazendo um levantamento batimétrico (que analisa o desenho do fundo de um reservatório, por meio de visitas com barco e usando um aparelho que coleta coordenadas geográficas e de profundidade), Rafael Resck conseguiu traçar um perfil do reservatório.

Áreas diferentes

A represa da Pampulha tem duas regiões distintas: uma é rasa, com menos de 3m de profundidade, na região da Ilha dos Amores, onde há muitas algas, sedimentos trazidos pelo despejo de esgoto direto e dos córregos poluídos, Ressaca e Sarandi; e a outra é profunda, com até 8m de profundidade, no trecho entre a porção mediana da lagoa até a região da barragem. A profundidade média medida por Resck foi de 5,1m, enquanto a máxima observada chegou a 16,17m, em ponto próximo à barragem. Antigamente, considerava-se 14 metros como o limite de profundidade.

Outro aspecto avaliado no mestrado foi a qualidade da água. Onde há mais sedimentos, menor a qualidade; onde a distância da foz dos córregos é maior, a água é melhor. O biólogo acredita que o diagnóstico é importante para nortear projetos e políticas públicas de intervenção na Lagoa da Pampulha. “Faltam trabalhos mais freqüentes desse tipo para termos dados refinados da situação. Não há uma equipe que estude regularmente a bacia hidrográfica da Pampulha”, acrescenta.

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